domingo, 19 de janeiro de 2014

O arquivo


      Lia os nomes dos cem arquivos no meu computador com a esperança de achar aquele arquivo. O arquivo que escrevi a seis meses e acabou virando mais um esquecido como se um dia não tivesse tido importância. Precisava dele. Precisava lê-lo de novo. Precisava entender.
      Aquela noite.
      Finalmente. Já estava achando que tinha deletado...
      Abro o arquivo, e só de ler a primeira frase daquele pequeno texto lembro de tudo como um flash. Ele me chamando para conversar, minha mãe nervosa na mesa de jantar, a gente subindo as escadas e eu sem saber que seria a última vez que fariamos isso juntos. Já fazia muito tempo, tudo o que estava relatado naquele arquivo parecia errado na época mas agora ele não podia parecer mais certo... Agora eu entendo o que aconteceu.
      Entendo o significado de colocar os pingos nos is.
      Eles não tinham consigo e aquilo era para parecer uma separação normal entre eles, mas tudo o que sentia era que aquela era a minha primeira separação. Pode ser que não fosse minha primeira separação com um garoto, mas sabia que se eu deixasse, poderia ser mais destrutiva do que se fosse.
      Sentia que estava perdendo algo dentro de mim e que tudo que eu um dia já acreditei fosse uma mentira, mas agora... Eu entendo. Só isso que mudou naqueles seis meses, afinal, meu antigos pesadelos com aquele dia ainda aconteciam.
      Eu entendo, mas ainda não aceito. Isso é o errado naquilo tudo, mas é tão dificil saber que aquela minha vida acabou e de alguma forma, estou parada no tempo olhando para trás e me perguntando se eu podia ter evitado aquilo tudo. Não podia.
      Minhas paredes já estavam desmoronadas e não tenho um relógio para voltar o ponteiro. A única coisa que tenho é um meio de construir tudo de novo. De recomeçar, de virar a página, de escrever novas palavras, e eu realmente quero isso. O problema não está em como construir de novo, e sim me livrar da bagunça que já foi feita.
      Sentindo as lagrimas em meus olhos, fechei a tela do computador rápido e forte demais. Ouço passos vindo em minha direção e viro o rosto para a parede.
      Você está bem? O que aconteceu?
      Ouço a voz da minha mãe e enxugo as lagrimas que caiam teimosamente dos meus olhos. Viro para ela e a encaro por um instante enquanto escolhia se ficaria encarando o relógio, tentando faze-lo voltar ou se pegaria a pá e por mais que fosse difícil, começaria a escrever, finalmente, uma outra historia.
       Minha mãe continuava me olhando quando rio baixinho e me viro para o computador com a tela abaixada.
      Espero que não tenha quebrado... Já tenho muita coisa para limpar.
      Sorrio verdadeiramente e minha mãe me olhou confusa antes de retribuir o sorriso, mesmo sem entender.

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