Ela está naquela cama, com o respirador e de minuto em minuto procuro saber se ainda respira.
O medo sobe por minha garganta quando aquela maquina apita sem motivo, quando paro de ver ela se mexer e quando ela fecha os olhos para descansar.
Só queria que eu pudesse tem mais um pouco de tempo com ela. Só queria poder voltar no tempo, para dizer para mim mesma para ter mais paciência, para conversar com ela e perguntar como foi o seu dia, mas agora não sou eu que não converso. Mas foi eu quem perdeu a oportunidade.
Agora ela não pode falar, não consegue sorrir e tenho medo que não consiga mais sentir. Sentir o meu amor por ela, sentir meu carinho e minha preocupação. Sentir meu beijo em sua testa e meu carinho em seu cabelo loiro. Sorrio quando lembro quanta paixão ela tem pelo cabelo e quanto cuidado ela tem com sua beleza. Agora, apesar de estar na cama, não vive sem o blush e o batom vermelho, sem seu casaquinho florido e seu cabelo arrumadinho. Sinto seu cheiro e lembro de como costumava ir ao seu banheiro e me esticar para tentar pegar um dos seus perfumes.
Alcanço um de vidro transparente, em forma de bolinha e espirro um pouco no meu pescoço e pulsos. Sinto o cheiro de bebê que sempre está na minha avó e fico feliz, já me sentindo mais bonita. Pego seu batom encima da pia e passo com força vendo os meus lábios ficarem vermelhos. Um vermelho vivo que ressalta a pele que herdei dela, uma pele branquinha e rosada. Sorrio para o espelho até ouvir passos lentos vindo ao quarto.
Saio rapidamente do banheiro e encontro ela se sentando em sua poltrona com a TV ligada no CSI pelo qual sempre foi tão apaixonada. Ela olha para mim e ri, me chamando com a mão. Sento no braço da poltrona, porque sei que já sou muito pesada para ela me aguentar. Ela fala enquanto me chama de passarinho, dou um sorriso ao ouvir o apelido e lhe dou um beijo, enquanto começava o episodio e prendemos nossa atenção na tela.
O que eu daria para ela falar passarinho de novo, o que eu daria para ela se lembrar quem eu sou, mas agora é tarde demais para se arrepender de qualquer coisa. O que me resta é aproveitar tempo que tenho antes de ela fechar os olhos e dormir, para não mais acordar.
Olho a maquina ao lado da cama e tudo ainda está em perfeita ordem. Ela ainda está aqui... É só o que consigo pensar para fazer meu medo entrar na minha cabeça e me lembrar de momentos pelo qual eu daria a vida para ter somente mais uma vez.
Trim. Trim. Trim.
O telefone toca e eu largo meu livro amaldiçoando que quer que estivesse ligando. Atendo e ouço a voz da minha tia tentando fazer uma imitação de alguém que eu não sei. Rio e ela logo começa perguntando se pode passar aqui em casa para fazermos um lanche com a vovó. Respondo que sim e logo desligamos o telefone.
Grito minha irmã para me ajudar a botar a mesa e depois de poucos minutos já ouvimos o interfone soar. Vou até ele e me falam que é o lobo mau. Rio da minha tia e abro os dois portões que dariam para a escada. Como moro n terceiro andar, minha avó e minha tia demoram mais para subir do que para vir da casa dela para o meu prédio.
A campainha toca e minha irmã atende abraçando minha tia afobada e minha avó cansada. Pergunto se querem água e só as comprimento quando já as estreguei. Sento ao lado da minha avó que já começa a conversar e não sei porque, mas me sinto um pouco envergonhada de falar alguma coisa, por isso as respostas sempre são curtas. Enquanto isso minha irmã ajuda minha tia a colocar a comida na mesa.
Nos sentamos e conversamos por algum tempo até me distrair com meu Ipod. Depois de um tempo sou despertada pela voz da minha irmã me falando para ser um pouco mais sociável. Largo o Ipod e tento interagir na conversa, mas por algum motivo, ainda não me sinto confortável.
Queria não ter me distraído com o Ipod, e queria saber na época que o motivo do meu desconforto, era não conhecer e nem conviver o suficiente com ela para me sentir solta e confortável ao seu lado. Eu só queria um pouco mais de tempo... Mas esse último não espera por ninguém.
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